ESPOSA DE PASTOR:

Quando pensamos na mulher de pastor várias imagens vêm à nossa mente, sugerindo o que ela deve ser: conselheira, mansa, voltada à obras sociais, atuante nos ministérios, enfim, "quase perfeita". Alguns acreditam ainda que o ministério do pastor só será bem sucedido se a mulher estiver ao seu lado trabalhando integralmente.

Para conhecermos um pouco mais sobre estas inquietações e exigências, entrevistamos a professora Valeria dos Santos, que está escrevendo sua tese de doutorado sobre "As imagens dadas para a esposa do pastor". Valeria também é esposa de um pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil que atua em Londrina/PR, é graduada em Teologia e especialista em Aconselhamento Familiar.


Você acredita que algumas mulheres tem se esquecido do principal, que é o cuidado da família e dos filhos, para ter o “enriquecimento” da função de esposa de pastor?

Profª Valéria - Segundo a pesquisa que tenho feito o seguimento das esposas de pastores dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Londrina - PR, existe uma grande preocupação destas mulheres em relação ao bem estar das suas famílias. Acredito que existam algumas mulheres que priorizam a função pastoral, mas devido ao grande número de separação conjugal e filhos de pastor afastados da igreja, as esposas de pastores têm optado no investimento da família.

Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelas esposas de pastores?


Profª Valéria - As cobranças feitas pelas igrejas para que corresponda a imagem da mulher perfeita. Geralmente quando essas mulheres adentram sua comunidade, encontram pessoas que possuem grandes expectativas em relação ao kit completo que ela possui, ou seja: a casa do pastor, ao relacionamento que possui como casal, aos filhos bem comportados e educados, aos dons e ministérios que exerce, ao suporte diante das adversidades, a padrão de elegância que deve ter e a sua capacidade de pastorear. São imagens geradas durante gerações e que precisam ser quebradas porque ninguém consegue cumpri-las a risca. Os membros das nossas igrejas precisam ser mais misericordiosos e compreensivos com a esposa do pastor e compreender que ela é uma mulher normal, igual às outras, tendo sua família, seus filhos e suas dificuldades diárias.

Alguns conselheiros familiares afirmam que aumenta a cada dia o número de pastores que se vêem obrigados a viver uma vida conjugal de fachada, mostrando um "casamento equilibrado que na verdade não existe", usando sempre um verniz religioso, disfarçando certa piedade, só para não perder o "seu ganha pão", que é o ministério. Qual o caminho que os líderes têm escolhido: (1) a perda do ministério, (2) o exercício dele com esta fragilidade conjugal ou (3) a busca por aconselhamentos, terapias para resolução dos conflitos?


Profª Valéria - Na sua grande maioria, os pastores exercem seus ministérios com esta fragilidade conjugal. Geralmente são preparados para atuar, esquecendo muitas vezes das prioridades na escala da vida, como: Deus, família, ministério, trabalho e outros. Temos presenciado muitos líderes descompassados que estão precisando rever suas necessidades pessoais, familiares, espirituais, físicas e mentais. Ainda existe muito preconceito na busca de ajuda em terapias e muitos estão decepcionados com os conselheiros que eticamente não souberam tratar dos problemas compartilhados. Cremos que deveriam existir mais opções em relação ao cuidado pastoral dos líderes, bem como mentoria espiritual para esses homens e mulheres que estão na linha de frente das nossas igrejas.

As conquistas das mulheres no mundo público tem sido notórias, você acredita que as igrejas estão abertas para que as mulheres exerçam o pastorado junto com o marido, ou ainda este exercício é um tabu?


Profª Valéria -Bem, o pastorado feminino atualmente tem crescido no nosso país, mas ainda existem algumas denominações que têm restrições sobre o assunto. Minha opinião acerca do assunto é que o pastorado não é uma função, mas um dom e só deve exercê-lo quem o possui. Muitas mulheres assumem o pastorado porque sua igreja assim exige, já que é casada com um pastor. Acredito que no Corpo de Cristo, os ministérios são assumidos a partir do dom e de uma disposição voluntária em servir, senão será muito pesado para uma mulher fazer algo que não deseja, frustrando-a e não permitindo que desfrute com prazer da bênção que é servir ao Senhor com alegria.

Como as esposas dos pastores devem lidar com a cobrança da Igreja para que elas exerçam o ministério pastoral, quando elas, na verdade, tem outra vocação/profissão?


Profª Valéria - O marido deve expressar isto ao assumir a igreja, mostrando que o Senhor tem usado sua esposa em outros espaços. A própria esposa deve compartilhar com as pessoas o que Deus tem feito através da sua profissão e amar as pessoas. Só o amor pode romper as barreiras e quando temos mais demonstrações visíveis de amor, os dons e ministério são secundários. Sei que na prática não é fácil romper com esse padrão existente, mas se estiver dentro da orientação de Deus, as barreiras irão cair e os outros irão reconhecer o potencial dessa mulher.


Quais as características que uma esposa de pastor deve ter ou almejar para que seja suporte do seu marido e controle a ansiedade gerada diante das demandas emocionais e relacionais próprias do ministério?



Profª Valéria - Eu acredito que a esposa de pastor deve amar profundamente o Senhor. Quando o amamos, a nossa busca e dependência passa a ser Dele e assim encontramos forças para amenizar as situações adversas que enfrentamos. Ela precisa também compreender claramente o plano de Deus para a vida dela e cumpri-lo com alegria. Li recentemente um provérbio popular que diz: “A esposa de pastor é a única mulher que eu sei que é convidada a trabalhar em tempo integral, sem remuneração, no trabalho do marido, e com um papel que ninguém tenha ainda definido” (Ruthe Branco). Se ela sabe o que Deus quer dela, não lutará para corresponder aos anseios das pessoas, mas simplesmente irá obedecer àquilo que Deus traçou para sua vida.

Quais os conselhos que você daria para as esposas de pastores?


Profª Valéria - Não desistir da caminhada que o Senhor lhe colocou para trilhar! Encontramos muitos líderes nos dias atuais que estão desanimados com suas igrejas. Se tiverem esposas perseverantes e que seja o apoio necessário para minimizar as lutas diárias, esses homens terão forças para continuar. Gostaria de incentivá-las a investir no seu esposo e filhos com tudo que possui, pois o seu trabalho não será em vão e no futuro receberá a recompensa por tudo o que tem passado. São mulheres valorosas e escolhidas para estar compartilhando dos sofrimentos ministeriais com o seu esposo, portanto, devem prosseguir, olhando mais para as bênçãos recebidas do que os sofrimentos enfrentados.




Site: www.institutojetro.com
Autor: Valéria Maria Barreto Motta dos Santos

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