Estou com 27 anos de ministério, sem contar os
quatro anos de trabalho pastoral que realizei enquanto cursava a graduação em
Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife - PE. Contabilizando
os quatro anos do Seminário, durante os quais assumi integralmente igrejas
nascentes, pregando em todos os domingos pela manhã e à noite, bem como às
quartas-feiras, aconselhando regularmente diversos irmãos, então, a conta sobe
pra 31 anos de ministério. Nesses trinta e um anos (ou vinte e sete, se você
preferir) consegui aprender algumas lições sobre o pastorado.
PRIMEIRA LIÇÃO: o que faz um pastor não é o
seminário, mas o próprio pastor. Sua vida devocional, sua sede de Deus, sua
vontade em querer andar intimamente com o seu Salvador é que faz dele - de fato
- um pastor. Péssimos exemplos podem sair de escolas renomadas, enquanto
pastores reconhecidos por sua integridade bíblica também brotam de frágeis e
simples casas de teologia. Alguns sequer passaram por uma escola de teologia,
mas sua vida com Deus superou a deficiência acadêmica.
Charles Spourgeon nunca cursou um seminário
teológico. Sua conversão se deu em 1850, aos quinze anos de idade. Um ano
depois, com dezesseis anos pregou seu primeiro sermão. Aos dezessete tornou-se
pastor de uma igreja batista em Waterbeach, Inglaterra. Três anos depois, aos
vinte anos, foi chamado para pastorear a Capela de New Park Street, em Londres,
que mais tarde viria a ser conhecida como Tabernáculo Metropolitano, onde ficou
até a sua morte. O que impressiona? Impressiona o fato de Spourgeon nunca ter
estudado Teologia para se tornar um pastor. Contudo, em seu ministério ele a
estudava arduamente, porque pastoreava com o coração nas mãos do seu Deus. Logo
no início do seu ministério, em 1852, ele até pensou em cursar um seminário,
mas desistiu da ideia. Há vários outros pastores espalhados pelo mundo, que não
tiveram a oportunidade de cursar um seminário, e nem por isso trabalham com
menor empenho e unção na obra do Senhor. T.W. Tozer também nunca entrou numa
sala de Teologia como aluno e o seu ministério continua abençoando vidas até
hoje.
Levantamento da Global Action em 2012 constatou que
62% dos pastores que ministram congregações em todo o mundo não têm
qualificação formal em seminário, nem treinamento pastoral. São desqualificados
para a obra? Não. O Senhor da seara os preparou, e tem preparado todos aqueles
que inclinam o coração para andar ao lado de seu Redentor. São eles os chamados
que se tornam pastores, mesmo desprovidos de uma formação acadêmica sólida.
Esteja certo de que quem faz o pastor não é o seminário, mas o próprio pastor
ao depositar o seu coração nas mãos de Deus. O seminário teológico apenas
lapida o pastor que já existe dentro do aluno.
SEGUNDA LIÇÃO: nem todo pastor que se destaca no
"mercado de trabalho" é necessariamente um bom pastor. Isso não
significa que os que alcançaram alguma proeminência não sejam bons e honestos.
Há muita gente crente e de valor que tem sido referência entre seu povo.
Contudo, sucesso de mercado não necessariamente é evidência de integridade
ministerial. Há lideres que infelizmente têm uma vida secreta repulsiva, mas em
público são aclamados como exemplos para outros. Deus sabe quem eles são. É a
eles que o Senhor, no último dia, dirá: "Nunca
vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mateus 7.23).
É gente adoecida passando-se por sã e pregando o que não vive.
Em contrapartida há os pequenos e discretos
profetas, geralmente pouco reconhecidos pela maioria dos homens, mas fazendo
uma grande obra nos campos do Senhor. Estes dificilmente estão entre os
conferencistas dos grandes congressos, não são citados nas denominações, nem há
livros publicados por eles, mas sua obra é reconhecida por Deus e por suas
igrejas. São santos homens, cuja glória está no céu. Lá eles são conhecidos e
lá serão recompensados.
TERCEIRA LIÇÃO: pastor é quem pastoreia ovelhas,
e não quem insiste em dizer que é pastor. Há muitos que insistem em afirmar que
são pastores, a despeito de não se ver neles qualquer pastoreio, nem ovelhas ao
seu lado. Por onde ando vejo uma profusão de pessoas se dizendo pastores. São
todos pastores de Deus? Não. Certamente muitos que se dizem pastores não o são.
Pastores têm ovelhas, cuidam delas, oram por elas, sofrem por elas. O que lhes
legitima como pastores é o pastorado e não o título à frente de seu nome.
Alguém é empresário apenas por dizer que é? Não. Empresário é quem tem empresa,
quem gasta a vida em seu empreendimento comercial, de modo que seu sucesso ou
sua falência depende de seu envolvimento pessoal naquilo que diz ser. Por mais
que alguém se diga empresário, ainda que tenha um cartão de visitas, no qual
apareça seu nome, se não tiver uma empresa não será um empresário, apenas uma
pessoa fantasiando e acreditando na própria fantasia. O mesmo ocorre em relação
ao pastor. Ministro da Palavra é quem ministra a Palavra, é quem pastoreia as
ovelhas, independente do tamanho do rebanho, e não quem apenas diz que é. Um
pastor de verdade não precisa se autoproclamar, todos o veem como tal. Sua vida
fala alto de tal maneira que não há quem possa calar o seu pastoreio.
QUARTA LIÇÃO: pastor é aquele que está no
ministério pela vontade de Deus. Foi Ele quem o chamou e o enviou, fazendo com
que o verdadeiro pastor esteja onde quer que esteja, não por vontade própria,
mas por decisão divina. Deus é quem decide onde seus pastores pastorearão. Ser
pastor é uma decisão divina. Deus é quem escolhe e coloca no coração de alguns
de seus filhos o "ser" pastor. Se dependesse de cada um deles, em
grande medida, não o seriam, mas o são porque foram amorosamente arrastados
para o pastoreio pela vontade soberana do Senhor. Só em obediência ao chamado
de Deus é que alguém se submete a ter uma vida com restrições, grandes
preocupações com sua igreja, geralmente pouco valor na sociedade, entre outras
tantas dificuldades. Há um número grande daqueles que iniciam sua carreira com
entusiasmo, mas logo deixam o ministério. O verdadeiro pastor, contudo, fica
nele até o fim. Ele muda de igreja, mas não muda o ministério, que é sempre o
da reconciliação e da paz. Não faltarão problemas ao cumprir o chamado
pastoral, mas o bom pastor ficará de pé em todas as lutas, porque Aquele que o
chamou o sustenta com Sua poderosa mão. Quando Deus chama alguém para o
ministério não há quem possa impedir, nem mesmo o próprio pastor, pois a
vontade Dele sempre prevalece.
QUINTA LIÇÃO: pastoreio é o único ministério
que produz uma obra eterna. O que um engenheiro faz ficará na terra, o que um
médico faz ficará na terra, o que um advogado faz ficará na terra. Entretanto,
o que um pastor faz repercutirá no céu. Seu pastoreio o acompanhará. Milhares e
milhares de pessoas estarão no céu por causa de seu trabalho. Muitos serão
salvos ao ouvir a sua pregação, outros tantos serão edificados quando as
Escrituras forem expostas por ele. Muita gente que estava desistindo da vida
voltará a amar ao Senhor ao ver e ouvir o que um autêntico pastor de Cristo
prega. É um ministério que não tem preço, uma glória que ninguém tira. A
verdadeira alegria do pastor está no céu, seu galardão será dado pelo Senhor
dos senhores.
Por isso, todo rapaz deve se preparar para ser um
pastor, e toda moça para ser uma esposa de um pastor, mesmo que Deus os queira
em outras áreas da vida. Fazendo assim eles serão pastores mesmo estando na
engenharia, na medicina, na advocacia ou em qualquer outra área. Eles
pastorearão onde quer que estiverem.
Deus chama os verdadeiros pastores e os capacita e
os sustenta para que juntos, no céu, todos se encham de alegria por tão grande
salvação.
FONTE DE
INFORMAÇÕES:
Site: www.institutojetro.com
Autor: Samuel Costa