“É possível conciliar o trabalho pastoral com o bem estar
da família?”
"... Mas, eu e a
minha família serviremos ao Senhor.” (Josué 24.15)
Numa sala de
aula, um grupo líderes foi surpreendido com uma pergunta do professor. “Vocês
estão dispostos a darem a vida pela igreja de Cristo?”, indagou o mestre,
silenciando por alguns minutos, dando tempo para que processássemos a pergunta
e respondêssemos com sabedoria. Alguns alunos quebraram o silêncio, e responderam
que “sim”, apresentando, cada um, as suas justificativas.
Confesso que fui
levado a dar a mesma resposta. Afinal, soa bem esta idéia de estarmos
trabalhando arduamente por uma causa e por isso, todo sacrifício é valido para
salvarmos as pessoas. Parece que o reconhecimento da igreja é maior para esse
tipo de desprendimento, de lideres que desenvolvem um estilo pastoral mais
“sacrificial”.
Retomando a Palavra, o professor contrariou as justificativas de seus alunos com duas colocações: primeiro, não foi isso que Jesus pediu aos seus pastores; segundo, é um sério erro de visão do ministério pastoral, que tem conduzido muitos lideres a desenvolverem o que chamou de “Síndrome de Messias” (a atitude de muitos líderes que se apresentam para o “sacrifício”, trabalhando incansavelmente, dias, noites e madrugadas, justificado pelo serviço ao Reino de Deus e bem estar do seu rebanho). Alguns pastores estão, literalmente, morrendo pela igreja de Cristo, ou, em outra versão, estão matando seus ministérios. O professor ainda fez uma ultima afirmativa: “Somente um pode entregar a sua vida pela igreja e morrer por ela: Jesus. Ele já fez isso uma única vez e não pediu a ninguém mais para fazê-lo novamente”.
O excesso de trabalho, a falta de cuidado com a saúde física e a ausência do lar, tem sido confundido com a urgência do cuidado diligente da igreja. Os pastores acabam vendo isso como condição normal do ministério, recebendo homenagens ao final da jornada, com destaques para seus “esforços além da conta ou sacrifícios sem medida”. As conseqüências precisam ser avaliadas à luz de um histórico mais detalhado da vida do líder. Qual foi verdadeiramente o custo para o exercício do seu ministério? Comece perguntando às esposas e aos filhos, que são as pessoas mais autorizadas a falar sobre o assunto.
“Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?” (I Tm 3.4,5)
A triste realidade é que esta entrega inconsequente, aceita pelos lideres da igreja como processo natural da vocação, está levando ao sacrifício não apenas eles, mas também suas famílias. Esposas em silêncio, compreensivas ao chamado ministerial de seus esposos, quando podem compartilhar e abrir seus corações, revelam suas dores, frustrações, uma solidão velada, depressão disfarçada em sorrisos forçados na porta da igreja. Filhos sem pais não é característica apenas de uma sociedade perversa, sem Deus; esta realidade invade também os lares cristãos, inclusive dos pastores e líderes. Estudos já demonstraram que há um grande numero de filhos de pastores que, ao alcançarem a idade da independência, abandonaram a igreja.
Podemos
encontrar uma série de justificativas para esta realidade, mas não há como
esconder o desequilíbrio entre o excesso pastoral e a ausência paternal como
uma das causas. Filhos precisam de pai, mais do que de pastor!
Se não pode ser diferente, eu abdico do ministério pastoral. Mas estou certo de que não foi bem assim que Deus nos ensinou. Ele jamais destruiria aquilo que ele mesmo construiu e considerou muito bom. Se família é dádiva de Deus e o ministério pastoral é vocação e chamado do mesmo Deus, um não pode excluir o outro, e nem mesmo temos o direito de estabelecer uma hierarquia de valores entre família e ministério. Nesta escala, na maioria das vezes, a família sai perdendo.
É possível conciliar o trabalho pastoral com o bem estar da família do pastor? Esta pergunta deve ser respondida com ações, mais do que com palavras, pelo bem dos nossos filhos e de nossas esposas, que precisam de maridos em casa, mais do que de pastores.
Estas ações não diminuem o trabalho pastoral, mas o qualifica; não o incrimina diante de Deus, mas o credencia ainda mais para o exercício da liderança sobre a igreja de Cristo; não o diminui diante da comunidade cristã, mas gera respeito e credibilidade maior pela vida familiar exemplar.
Reconheço que temos um alto preço a pagar para realizar um ministério pastoral efetivo e liderar a igreja de Cristo com excelência. Porém, não deve estar incluso neste preço a destruição ou desintegração das famílias. Se assim acontecer, falhamos!
Pense a respeito e peça a orientação de Deus para o exercício de um ministério eficaz em todas as direções. E, se preciso for, mude!! Pelo bem estar do ministério e da família, presente precioso de Deus.
FONTE DE INFORMAÇÕES:
SEPAL: http://www.sepal.org.br
Edison Zemuner
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